Nossos Museus, Nossas Cidades

Nossos Museus, Nossas Cidades

Ainda com a cena do Museu Nacional em chamas – escrevo esse texto na pretensão de afrouxar o nó na garganta. Como brasileira, profissional de arquitetura e urbanismo e também como mãe de um menino que não teve tempo de conhecer o “Museu da Quinta”.

Assistimos incrédulos a mais um episódio de violência cometida contra nosso povo através da ineficiência e descaso daqueles que são nossos governantes. Gerações de má gestão e falta de vontade com nosso patrimônio cultural levaram a esse desfecho. Para além de um batedor de carteiras que nos leva o dinheiro, o Estado nem mesmo largou nossa identidade em algum lugar para que pudéssemos reavê-la – eles deixaram-na queimar.

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Queimam não apenas as peças do acervo, não os documentos. O que virou cinzas foram também os sorrisos de admiração de uma criança que vê pela primeira vez uma múmia, o esqueleto mais antigo encontrado de uma mulher Ameríndia e quem sabe, a vontade de se tornar um arqueólogo. É diminuída a chance de contemplar as riquezas e agruras de nosso período imperial e outras tantas chances de conhecimento. Morre a vontade de independência e o questionamento do “status quo”. Nosso passado sendo apagado por um incêndio criminoso – cometido por aqueles que deveriam zelar pela integridade de nossa sociedade.

Um edifício histórico, coleções, uma instituição científica entre tantas outras deixadas ao léu. Patrimônio do Brasil, das Américas e do Mundo que some em nossa frente, televisionado e nos trazendo um sentimento de impotência perante tanto desmando. Tragédias como essas, estranhamente não nos surpreendem, já estão previstas, mas como evitá-las? Precisamos começar por nós mesmos, mudar nossa maneira de viver. É preciso fazer do nosso dia-a-dia um ato político no sentido de tomar decisões que afetem a coletividade.

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Precisamos levar nossas crianças aos museus para aprender nossa história, a história do outro, aprender o respeito, descobrir a ciência, arte, cultura e através desse ato exercer a cidadania. Aproveitar a natureza questionadora da infância e fomentar o crescimento de pessoas com pensamento crítico. Precisamos nos apropriar de nossas cidades, freqüentar museus para ver de perto como estão. Denunciar, abraçar, trazer para dentro de nós toda essa riqueza de sensações e informações que nos trazem a cada visita.

O que precisamos reconstruir é nossa sociedade, não apenas – como se pouco fosse – nosso Museu Nacional. Dar oportunidades e não queimá-las. Refletir sobre o acontecido e agir de maneira coerente para resignificar essa tragédia. Através de nossos atos, podemos sim mudar a realidade.

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Comentários

  • Isabella de Castro Montreuil Brandão:

    06 Set 2018 20:26:22

    Brilhante reflexão! Parabéns por todo o trabalho feito em prol de nossa Juiz de Fora! Arquitetura aliada com humanização!

  • Flavia Reis Falci Loures:

    08 Set 2018 07:10:14

    Parabéns Tais!!! Artigo perfeito . Como mãe , arquiteta e cidadã brasileira você honra suas origens e tradições. Bom saber que possuímos pessoas como você na defesa da cultura e educação que no momento encontram-se tão prejudicadas no nosso país . Bjs

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